De tanto escrever sobre escrita, acho que bati no fundo. Ou no topo, se o poço estiver ao contrário.
Hoje quero refletir sobre as certezas na hora de escrever, pois é muito difícil estar certo sobre a escrita. Escrever é muita coisa. E digo isso porque escrevo muito; inclusive sobre o ato de escrever. Digo também com alívio: se a escrita fosse uma ciência exata, não teria graça.
Mario Quintana disse um lema que repito para mim todos os dias: “Um poeta que nunca se contradiz deve estar mentindo”. Minta.
Escrever é uma das formas de refletir. Refletir e escrever é uma das formas da arte. No entanto, a coisa mais simples que quero dizer é que não há uma regra para conduzir pessoas pela escrita. Não existe um curso milagroso, uma promessa única. Cada pessoa seguirá — ao seu modo, ritmo e estilo — seu próprio caminho com as palavras.
Mas qual é o melhor caminho para quem quer escrever melhor? Seguir estudando. É preciso estudar para melhorar o texto: ler, escrever, refletir, estudar autores(as), ler mais, refletir, fazer ao contrário, quebrar a regra, tentar, escrever mais, estudar outros(as) autores(as), ler, escrever, refletir mais e mais…
Por exemplo: na escrita literária, há uma crítica sobre escrever sobre os sonhos. De modo geral, é uma crítica sobre o clichê de escrever sobre os sonhos. Todo escritor iniciante, em algum momento, diz que vai escrever sobre os sonhos. Ou todo mundo que conhece alguém que escreve diz que ele deveria escrever sobre os sonhos. Enfim. No entanto, isso não quer dizer que você não possa escrever sobre os sonhos. Porque a própria literatura usa bastante os clichês. O tempo todo. Mas de outro modo: como quem usa um guarda-chuva ao contrário para navegar sobre um rio. Ou seja, de outro jeito.
Na escrita, você pode tudo. Desde que não seja do mesmo jeito, com o mesmo intuito, da mesma forma que outros já fizeram. Na escrita, você pode coisas demais. Desde que o fim seja criativo, original, fresco, irreverente, exagerado, contrário, pulsante, vivo, surpreendente... Por isso, continue estudando. Aliás, na literatura e em alguns outros lugares, o proibido é ainda mais gostoso…
Então siga estudando. Siga algumas regras, quebre outras. Mas siga. Avance por novos caminhos. É isso que nos dá ânimo e faz nossa escrita se concretizar. Seguir. Sem, necessariamente, cumprir as regras. Mas descumprindo-as também.
E se contradizendo, como fiz bastante aqui hoje.
Começa na semana que vem
O curso “Crônicas e Memórias” começa na semana que vem, às quartas e quintas, para quem quer continuar estudando a escrita e descobrindo mais sobre si. Serão 4 aulas ao vivo, que também ficarão gravadas aos inscritos. Reserve sua vaga e continue estudando sua jornada com as palavras. Saiba mais aqui > > >
tem característica mais humana do que se contradizer?