Percebi agora, enquanto escrevia esse texto, que ainda sinto a necessidade de me apresentar quando vou falar de escrita.
Talvez porque hoje tenha tantas pessoas falando de escrita (coisa linda), que antes de dizer, eu sinta vontade de explicar quem eu sou e porque eu falo de escrita também. Talvez porque tenha tantas pessoas novas aparecendo por aqui (e nas redes), que me vejo obrigado a contar algumas historinhas antes de apresentar minha literatura, minha ficção, meus poemas, crônicas, contos...
Então eu me apresento, conto um pouco de mim, vou me acalmando, como todo inseguro faz… o0
O que eu não sou: um novinho. Tenho até a cara de novinho, mas a lombar é de 40+. Tenho 40+. Faço Ioga quando lembro, fico sentado 10h por dia, tomo remédios para as dores nas costas, tenho algumas hérnias, a da lombar com a sacral é a mais avançada, trabalho com a escrita literária, escrevo livros.
Faz 25 anos que escrevo, tenho 8 livros publicados e em 2014 publiquei meus 2 primeiros com a antiga Ed. Saraiva, quando rodei o país participando de feiras e lançamentos, foi lindo demais. Depois, em 2018, com a Ed. Planeta, publiquei meu primeiro romance. Também escrevi 5 livros independentes, de crônicas e poesias; editei um muito bonito chamado “Dois avessos”, um livro de dois poetas avessos, para serem lidos do avesso mesmo. Meu próximo livro é um romance, sai agora em 2025, pela Ed. Rocco, uma ficção sobre uma fábrica de homens ruins… Conto mais em breve.
Sinto essa necessidade pois só passei a falar do que faço e a dar cursos de escrita depois que escrevi muito. Quando passei a publicar, mas, principalmente, quando encontrei o caminho saboroso de escrever no dia-a-dia, da escrita demorada, que leva tempo para se acomodar, e depois, mais tempo ainda para ser deslocada para os lugares interessantes, como a literatura que eu amo. Quando entendi o que eu poderia falar sobre isso para empolgar quem quer aprender a escrever e, um pouco mais, para dar concretude à caminhada, que em 2017 montei meu primeiro curso.
Não sei contar quantos alunos já passaram comigo. Antes da pandemia, eram turmas presenciais, fiz cursos do norte ao sul do país. A partir de 2020, passei aos cursos online ao vivo todo mês, e às vezes mais de uma turma mensalmente. Tem os cursos gravados, e também as feiras literárias, oficinas, palestras, as mentorias... Foram tantas pessoas, mais de 300 por ano, coisa preciosa. Fiz amigas e amigos escritores, meus contemporâneos de jornada. Coisa riquíssima.
“Eu e você não rima. Rimos”
Faço essa apresentação toda aqui como quem leva o currículo para o café-da-manhã com amigos. Insegurança, necessidade de ser entendido, medo de ser confundido. Angústias, toxicidade dos espaços de trocas, raiva de oportunistas… Mas também porque gosto muito de falar disso, de escrever sobre isso. Vou falar bastante da minha escrita nas Cartas, de muitas formas. Então vez ou outra eu panfleto mesmo, falo dessa jornada que sigo, com orgulho. Mas também levo livros aos cafés, presenteio meus amigos, dou os originais para lerem, trocamos, tomamos vinhos, escutamos músicas, filmes, recebo presentes, escuto… É linda a troca com quem trocamos, de verdade, a vida.
Esse é o nosso lance aqui, a troca. Não sou ranzinza, pelo contrário. Mas hoje, quando me sentei para escrever, me deu uma leve angústia e uma necessidade de contar coisinhas antes. Foi lendo e descobrindo mais do universo substack, me deparando com pessoas bonitas, palavras legais, que também encontrei o tóxico, e me bateu uma angústia de leve.
Gostei de ter vindo para as newsletters, essas minhas Cartas, gostei de construir uma revista literária íntima para quem me acompanha, para falar de coisas que não cabem nas redes. Da rotina, das ideias frescas, do que se perde. Escrevo muito, então muita coisa fica por aí (mas não mais. Agora fica por aqui)
A palavra escrita é semelhante a uma pérola (Johann Goethe)
Agora vou dizer rápido o que eu queria dizer
A coisa mais importante que aprendi sobre minha escrita foi que escrever não se faz com pressa. Mesmo que hoje eu consiga escrever rápido, a coisa mais importante para dizer e repetirmos juntos é: escrever não se faz com pressa.
Outro dia um amigo me convidou para uma entrevista num podcast. A primeira pergunta que me fez foi “O que é a escrita para você?”. "Que difícil!", eu disse enquanto respirava e pensava no que responder, em como a escrita se modificou ano após ano, no quanto foi importante a não-pressa para aprender a escrever as minhas histórias com as minhas palavras.
Quando ameacei começar a resposta, ele não se aguentou, me atravessou e começou a falar o que era a escrita para ele, num texto evidentemente ensaiado antes.
Enfim, a entrevista não era comigo.
Escrever não se faz com pressa. Se faz quase parecendo que não se faz.
A gente vai se acalmando junto, lendo livros, falando das maravilhas que vamos descobrindo, como se estivéssemos na mesma sala: “Uma manhã, descobri que a única coisa que eu realmente desejava fazer era descascar frutas fazendo serpentes enquanto minhas filhas me observavam, e então comecei a chorar.” (Trecho de “A filha perdida”)
No sábado tem crônica nova aqui
Sou cronista regular do jornal O Popular. Aos sábados, publico uma coluna de crônicas. Faço isso também desde 2017. No próximo sábado vou publicar aqui uma crônica que estou escrevendo, é sobre uma traição, uma mãe exigente, um namorado frágil. É esse cruzamento todo a história.
Considere assinar minhas Cartas para ler meus textos literários exclusivos :)
Antes de ir embora, uma música
Por fim, vou deixar um som que me anima a escrever. Escuto José González quando quero me lembrar de histórias do Caminho de Compostela. Ou vibrar diferente, noutro ritmo. Escute esta música, talvez te ajude a lembrar de algo. Me lembro do Caminho pois era o que eu escutava nos dias em que caminhava sozinho pelo trecho do Porto a Santiago.
Tem um documentário sobre ele no Mubi: “A tiger in paradise". Coisa fina, viu? Aqui você fica sabendo dele
Na semana que vem começa a Fogueirinha 2024, minha última turma de escrita do ano. Uma roda de escrita, uma bolha de afeto e palavras bonitas. Vou deixar aqui para você saber mais se te interessar: clique aqui para saber mais
Meus livros você pede aqui, autografados por aqui. Neste mês já estou enviando os pedidos de Natal, pois em dezembro farei uma viagem e não poderei enviar mais. Aproveite para pedir aqui
E os cursos de escrita gravados estão todos em promo aqui, é black da escrita
Beijos meus e do meu gêmeo:
Dica preciosa: "Escrever não se faz com pressa. Se faz quase parecendo que não se faz." Nesses tempos de internet e publicações rápidas, quase simultâneas, há de se ter cuidado com as palavras. Como diria Clarice: "Não se brinca com a intuição, não se brinca com o escrever: a caça pode ferir mortalmente o caçador." Abraço.
Gostei de saber dos passos que você deu até aqui, Luca. É bom demais acompanhar o seu relacionamento com a escrita! Bonito demais, leve demais! Já estou aprendendo muito com você! E, como dizemos aqui na Bahia… Rapaz, essa música me quebrou! Obrigada! Obrigada!