Homens frouxos
Do interior #29 Contar as histórias das heranças; uma ideia para não escrever só o relato; e uma lista atualizada de livros memoráveis
O que se escreve a partir da memória não é um relato. É, no máximo, uma tentativa de relatar. Uma tentativa que já nasce falha, pois toda memória é falha, é fragmentada, é emocionada, seletiva, inventiva, criativa…
Ontem me lembrei de uma história. Ou me lembrei de escrever uma história que insistia em querer ser lembrada.
Mas o que é o texto de uma memória que já nasce turva? É criação, invenção, literatura?

Homens frouxos
Quando o pai foi para a UTI depois de um infarto, eu achei que ele não fosse aguentar. Meu pai era fraco, não suportava hospitais.
Quase todos de sua família tinham morrido em uma UTI. Ele estava no mesmo lugar onde passou os últimos anos se despedindo de pai, mãe, irmãs... Ele seria o próximo, era o que devia pensar deitado na maca, conectado por fios e rodeado por aparelhos barulhentos.
Foi quando teve uma crise de pânico.
É uma cena que não consigo tirar da cabeça. E que tento agora reconstruir, sem deixar que o medo que senti naquele dia modifique demais a história; medo dele se levantar com os fios ainda conectados no corpo, abrir a porta da UTI e vir em minha direção dizendo que não ia ficar — como nos sonhos que costumo ter com ele.
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