Uma pergunta que me fazem repetidamente nos cursos é: onde é melhor escrever, no caderno ou no computador? E eu respondo rápido: o melhor é na praia, com as contas pagas. Caso não possa, então eu recomendo escrever no lugar que puder.
No cinema, no banho, lendo um livro, caminhando, transando… Meu lugar preferido é quando e onde a ideia “chega”. Escrevi “chega”, entre aspas, porque não acho que a ideia “chega”. É a gente que vai buscar. Mas isso será tema de outra carta.
Voltando: com o tempo, aprendi a alimentar a vontade de escrever sempre que ela aparece, como se alimenta uma leoa. Ou a vontade te come e você não escreve.
Mas é verdade que se eu tivesse tempo para escolher, escreveria mais à mão. Adoro escrever à mão. Coleciono cadernos e canetas porque gosto da escrita no papel, acho mais criativa, mais bonita, mais poética.
Escrever à mão é diferente. Eu me sento diferente para escrever à mão, meu ombro se mexe mais, seguro a caneta com uma mão, apoio a outra na folha para o texto não escorregar, ajusto o papel, testo a tinta, coordeno o desenho das letras, das palavras, cuido para que não fiquem tortas na folha sem pauta. Cada folha de caderno tem sua gramatura e barulho próprios. Na folha eu rasuro, risco, escrevo “errado”. À mão é diferente.
À mão, preciso me lembrar como se desenha a palavra. Isso exige raciocínio, concentração e memória. À mão é poético.
No entanto, jamais conseguiria escrever o tanto que escrevo se tivesse que fazer somente à mão.
Quando preciso de velocidade para desenrolar uma crônica, por exemplo, ou quando começo a escrever uma prosa longa, como um romance, vou para o computador. É melhor para organizar, formatar, mudar frases de lugar, refazer, refinar, recomeçar.
No caderno, escrevo de forma livre, frases soltas, desconexas, potencialmente poéticas. Também escrevo mais bobeiras à mão, me divirto mais. Acho bonito perceber que a poesia vem melhor quando convido meu corpo a participar do texto de um outro jeito. O corpo é poético, e tem efeito evidente nas palavras.
Portanto, onde é melhor escrever?
Depende. O pior é onde não puder escrever.
Uma memória puxa outra
Agora me lembrei que em 2017, quando eu cruzava a Espanha a pé na minha segunda vez por Compostela, meu celular caiu na estrada de terra e quebrou. Era o meu bloco de notas da caminhada. Fiquei angustiado. Passei a tarde daquele dia procurando uma loja na cidade de Ponferrada, enquanto meu amigo Jacinto acompanhava minha angústia em silêncio. Quando voltei ao albergue sem conseguir um novo celular, Jacinto me pediu que o esperasse, pois tinha um presente para mim. Voltou do quarto com um caderno de bolso e uma caneta, me entregou e disse: “Essa tecnologia nunca estragou. Escreva.”
Dos livros que leio
Falando em escrita, e no que eu disse na carta anterior sobre minha obsessão por Elena Ferrante, olha que maravilha esse sublinhado que fiz no livro “A filha perdida”:
“Ler e escrever sempre foram a minha forma de me acalmar. Ainda que eu goste mais das tempestades.”
Fogo na floresta e dois gêmeos idênticos
Outro dia escutei uma música e, rapidamente, comecei a escrever sobre um episódio que vivi em Portugal, quando atravessei caminhando do Porto a Santiago de Compostela-ES. Me lembrei de um restaurante que conheci, das fotos dos gêmeos nas paredes do lugar. Escutei a música e escrevi “Salão de memórias felizes”, uma crônica sobre o meu gêmeo. Vou deixar a música abaixo para ver se te anima a escrever:
Lembretes e gostosuras
Na semana que vem, dia 19, começa minha última turma de escrita do ano: a Fogueirinha. Um curso e também uma roda de escrita e escuta, para quem quer ganhar maturidade e segurança com o texto. Ainda dá tempo de participar: saiba mais aqui e inscreva-se!
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E por fim, para quem gosta de ler, como sempre faço nesta época do ano, preparei um kit bonito com meus 4 últimos livros de poesias, crônicas e romance. Os pedidos de Natal podem ser feitos até o fim do mês. Tem kit com saco juta incluso: peça meus livros autografados aqui
Comecei a escrever aleatoriamente para lidar com crises de ansiedade. Acompanho a Amanda Mol, ela citou um curso seu em alguma das news, me interessei para aprofundar esse processo. Fiz o curso na madrugada de sexta para sábado. Consequência: acabei com um caderninho em apenas um final de semana kkk
Ferrante é pura tempestade, mesmo. Personagens nada previsíveis. Gosto de escrever num bom café, para mim alucinógeno imaginativo. Você está certo, pior é não escrever. Abraço.