O que estamos enfrentando
Bilhete #09 Conversas com pessoas e gatos; e outras fofuras linguísticas
Neste bilhete aberto a todos: o que estamos vivendo com o primeiro livro do clube de leitura; uma discussão acalorada sobre escrita e ferramentas de IA; e poesias
“Jamais gostei do gênero de ficção escrita por mulheres conhecido como romance feminino, mas sou fascinada por histórias de mulheres apaixonadas, sobretudo quando o amor é, de alguma maneira, não convencional ou especialmente difícil, até mesmo desesperado ou abertamente insano. “Mulheres vivendo um estranho amor” poderia muito bem ser o título de uma coletânea de contos assim.”
Este trecho acima é do livro que estamos lendo e adorando no clube de leitura Clube do Luca. “O que você está enfrentando”, de Sigrid Nunez, é uma obra cheia de conversas interessantes. As primeiras impressões compartilhadas no grupo de WhatsApp da turma têm a ver com os incômodos.
Esta é a graça de ser ler em um clube: a partilha das impressões e, assim, percebermos como a leitura acontece para cada um. Ler histórias que nos comovam, de um jeito ou de outro, para o bem ou para o mal, é o objetivo central do nosso grupo de leitura. Ou seja, histórias que nos movam para lugares comoventes.
No trecho do começo da news, a narradora se posiciona sobre assuntos difíceis. E ao contrário do que parece à primeira leitura, não há uma crítica sobre a literatura feminina, mas sobre o termo usado para classificar o gênero quando é uma mulher que escreve.
Não existe “literatura masculina” quando um homem faz literatura. Por que existe a “literatura feminina” quando é uma mulher?
O que posso dizer além disso, sem dar spoilers sobre o livro, é: Sigrid Nunez é elegante. Por mais duro que seja o tema deste livro, ela o traz de forma que nos faz querer pensar mais. Muitas vezes, com graça, como quando a narradora conversa com uma gata ou quando tira sarro de um ex-marido pessimista.
Estamos só começando. A turma iniciou a leitura agora. Alguns ainda estão adquirindo seus livros, sem pressa, pois teremos dois meses inteiros para ler e partilhar nossas percepções.
Fica a dica para quem quiser ler mais neste ano, participe do Clube É baratinho: R$ 9,00 por mês ou R$ 90,00 por ano. Basta apoiar esta news. Além de ter acesso completo às newsletters com meus textos literários, você ganha descontos nos meus cursos de escrita, nos meus livros e recebe o link por e-mail para participar do WhatsApp do Clube do Luca.
O que estou enfrentando no LinkedIn
Ontem tive uma discussão acalorada sobre escrita e inteligência artificial, com participação de mais de duas mil pessoas no LinkedIn. É muita gente.
Fiz uma crítica ao uso da inteligência artificial na escrita, não como um saudosista conservador que protege seu rebanho, mas como um defensor do termo “escrita”.
A escrita começa nas vivências, nas experiências, nas histórias que provamos, nos livros que lemos; depois, no pensamento, nas conexões neurais; e segue para a articulação das ideias, das memórias, dos caminhos que a história pode seguir; desce para o resto do corpo, passa pela coluna, cintura, pés e mãos; arrepia os pelos, excitam os órgãos reprodutores; os braços começam a se mexer e a formar palavras no papel, no computador, no celular, na máquina de escrever; as palavras já não são as mesmas do pensamento, às vezes melhores, quase sempre piores; passa-se minutos assim, horas assim, dias assim e até anos; tem quem nunca saia desse processo; os que saem, reescrevem, revisam, publicam, jogam fora; e se publicam, recomeçam das vivências, das experiências, das histórias que provamos, dos livros que lemos, dos arrepios…
O resto não é escrita.
Chatgpt não escreve.
Escrita se faz escrevendo.
Expus esse ponto e recebi um punhado de mensagens de apoio de pessoas que leem e, possivelmente, também escrevem e vivem o processo. Mas também recebi alguns comentários diferentes...
Foi por aí que a coisa desandou, quando os que defendem as tecnologias (e eu também defendo as tecnologias), começaram a dizer que eu era contra as tecnologias; que deveria aceitar que o chatgpt veio para ficar; que estava com medo de perder meu emprego; que era mais um mi mi mi, um mo mo mo, um mu mu mu, disseram isso.
Até pensei em me explicar, mas achei redundante repetir, para as pessoas que não leem, que eu só estava dizendo que escrita é escrita. Mas elas não leem. É isso o que elas estão enfrentando, o problema de não ler. Imagina escrever…
Chatgpt não escreve, e está tudo bem. Chatgpt não vive histórias, não arrepia os pelos com um acontecimento provocante, não tem ombros que se movem diferentemente a cada letra desenhada no papel… Não. Mas é verdade que compila textos e ajuda a organizar materiais palestras apresentações e outras tarefas que usam as palavras.
Mas escrever, não escreve.
Fofuras linguísticas
“Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho, eles passarão... Eu passarinho.” (Mario Quintana)
“É tempo de regressar à casa. A poesia não está na rua” (Adília Lopes)
“A borboleta pousada ou é Deus ou é nada” (Adélia Prado)
“O que um poema esconde, só o poeta sabe onde” (Luca B)
Chatgpt faz isso?
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Beijos,
Luca B.
Você percebe como o carinha (vou chamar de carinha) se irritou sobre a temática. Ele nem sabe interpretar um texto, não sabe o que é escrever, o que o carinha ler deve ser escrito por IA, ele ta preso numa Matrix e nem percebeu, coitado.
Corajoso você, pois nao tenho paciência para o LinkedIn kkkk.
Olá luca. E demais. Obrigado pela provocação temática e por ir lá gerar um pouco de mal-estar. É próprio da reflexão gerar oposição ou controvérsia. Pois afinal de contas uma discussão pressupõe diferenças e divergências… embora isso não dá o direito ao outro de ofender, apelar e rebaixar o outro. E viva a cultura da gentileza e delicadeza do trato em tempos brutos. 🤗✨📕🤓